Oficina de Sentidos

Ética e Perversão Quando a Literatura Perde a Palavra
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domingo, 4 de julho de 2010

Estupidez Infinita (Anderson Pereira)


Apenas duas coisas são infinitas: o universo e a estupidez humana. Só tenho dúvidas quanto ao universo.

Albert Einstein

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

A Lista - (Oswaldo Montenegro) Oficinadesentidos: Anderson Pereira



Faça uma lista de grandes amigos
Quem você mais via há dez anos atrás
Quantos você ainda vê todo dia
Quantos você já não encontra mais...


Faça uma lista dos sonhos que tinha
Quantos você desistiu de sonhar!
Quantos amores jurados pra sempre
Quantos você conseguiu preservar...


Onde você ainda se reconhece
Na foto passada ou no espelho de agora?
Hoje é do jeito que achou que seria


Quantos amigos você jogou fora?
Quantos mistérios que você sondava
Quantos você conseguiu entender?
Quantos segredos que você guardava
Hoje são bobos ninguém quer saber?
Quantas mentiras você condenava?
Quantas você teve que cometer?
Quantos defeitos sanados com o tempo
Eram o melhor que havia em você?


Quantas canções que você não cantava
Hoje assobia pra sobreviver?
Quantas pessoas que você amava
Hoje acredita que amam você?


Metade (Oswaldo Montenegro) Oficinadesentidos: Anderson Pereira


Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio;
Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca;
Porque metade de mim é o que eu grito,
Mas a outra metade é silêncio...


Que a música que eu ouço ao longe
Seja linda, ainda que tristeza;
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante;
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade...


Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece
E nem repetidas com fervor,
Apenas respeitadas como a única coisa que resta
A um homem inundado de sentimentos;
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo...


Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço;
E que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada;
Porque metade de mim é o que penso
Mas a outra metade é um vulcão...


Que o medo da solidão se afaste
E que o convívio comigo mesmo
Se torne ao menos suportável;
Que o espelho reflita em meu rosto
Um doce sorriso que me lembro ter dado na infância;
Porque metade de mim é a lembrança do que fui,
A outra metade eu não sei...


Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
para me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais;
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço...


Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade para faze-la florescer;
Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é canção...


E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade... também.




Oficinadesentidos em (Jay Vaquer - Longe Aqui)

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

O Buraco Negro (Oficina de Sentidos)

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

A Verdade Dividida (Oficinadesentidos)


A porta da verdade estava aberta
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.

Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só conseguia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.

Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia os seus fogos.
Era dividida em duas metades
diferentes uma da outra.

Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era perfeitamente bela.
E era preciso optar. Cada um optou
conforme seu capricho, sua ilusão, sua miopia.


Carlos Drummond de Andrade

domingo, 19 de outubro de 2008

(Jay Vaquer - Cotidiano de um Casal Feliz) Por oficinadesentidos


POST-MODERNUS (Oficinadesentidos)


O que dizer daquilo que ousamos chamar

de pós modernidade? a era da ambiguidade?
tempos de uma liquidez incomum,

típica de uma época incerta.
Toda certeza é efemeridade de um talvez não resolvido.

Anderson Pereira



domingo, 12 de outubro de 2008

Reflexos de Incerteza (Anderson Pereira)


Não passam de traidoras as nossas dúvidas,
que às vezes nos privam do que seria nosso
se não tivéssemos o receio de tentar

William Shakespeare

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

TRADUZIR-SE ( Oficinadesentidos)


Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir-se uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?

Ferreira Gullar


quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Oficina de Sentidos - Contos da Meia Noite

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Cartas de Amor ( Oficina de Sentidos)


Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor
Se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu
Tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
As cartas de amor,
Se há amor,
Têm de ser
Ridículas.
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca
Escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas...

Álvaro de Campos ( heterônimo de Fernando Pessoa ) - 21/10/1935

Oficina de Sentidos - Contos da Meia Noite - A cabeça

domingo, 31 de agosto de 2008

AUTOPSICOGRAFIA (Oficina de Sentidos)


O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas da roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama o coração.

Fernando Pessoa - 1/4/1931

A Mulher do Próximo (Oficina de Sentidos)


Motivo (Oficina de Sentidos)


Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
- não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.

Cecília Meireles

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Oficina de Sentidos - Contos da Meia Noite - Apólogo brasileiro

De tudo ficaram três coisas. (Oficina de Sentidos)


"De tudo ficaram três coisas:
a certeza de que estamos sempre a começar,
a certeza de que é preciso continuar,
e a certeza de que seremos interrompidos antes de terminar.

Portanto, devemos:
fazer da interrupção um caminho novo,
da queda, um passo de dança,
do medo, uma escada,
do sonho, uma ponte,
da procura, um encontro." - Fernando Sabino



A Caolha (Canal Oficina de Sentidos)